Marcelo Mendes e Os Bacanas
Da poesia e do existencialismo que marcou um momento da carreira de Erasmo Carlos para cair no brega de Reginaldo Rossi e na influência do humor dos irmãos Panarotto, que estão à frente da Repolho. É mais ou menos essa a diferença entre os discos Mendes, Marcelo (2007) e No Embalo do Helicóptero (2010). Em seu novo trabalho o brasiliense radicado em Florianópolis Marcelo Mendes deixou de lado a crise dos 30 anos e permitiu rir de si mesmo. Afinal, com ele mesmo bem definiu, “a verdadeira maturidade é bem isso mesmo”.
“O amadurecimento é não ter muitos pudores. Quando a gente é mais novo, fica com receio de fazer as coisas. Mas assumir o que você gosta, o que você faz, tem a ver com maturidade sim”, disse Marcelo.
No Embalo do Helicóptero traz uma série de canções antigas, da época em que o compositor ainda morava em Brasília e sentia-se um estrangeiro na própria cidade. Marcelo culpa a timidez pela pouca habilidade de se socializar com os tipos peculiares que transitam na capital. “Ou era absolutamente tímido ou absolutamente bêbado. Devia ser a pessoa mais chata do mundo. Ninguém devia gostar de mim porque ou ficava calado na minha ou ficava enchendo o saco de todo mundo. Não tinha meio termo”.
Exagero ou não, o fato é que muitas amizades foram consolidadas entre uma garrafa e outra. A turma de Marcelo Mendes tocava em churrascos e tinha humor apurado. Com Os Bacanas, surgiram brincadeiras entre amigos envolvendo uma certa “miss” Luziânia, garotas hippies e confusões em apartamentos. De Brasília para Santa Catarina, enquanto encarava a vida acadêmica em suas pós-graduações, Marcelo conhecia outra galera e estabelecia parcerias importantes em sua carreira musical. Uma das mais emblemáticas é com os irmãos Panarotto, da banda Repolho (que de séria não tem nada).
“No primeiro disco havia uma tentativa consciente de tentar apontar para outras direções. Desta fez, toquei um foda-se e fiz aquilo que estava afim. Não que da outra vez eu não estivesse afim, mas é que agora queria algo mais solto. Tive a chance de pegar essas músicas que estavam ali sem registro e aproveitá-las”.
Dessas experiências acumuladas, surgiram canções interessantíssimas, mas que não foram aproveitadas no primeiro disco. É o caso de Minha Gatinha em super-8, A Rainha da Festa da Uva e As canções que você sabe de cor. Todas feitas com muito humor e embaladas por arranjos sessentistas e outras inúmeras viagens musicais pensadas por Marcelo Mendes e os amigos que passaram pelo estúdio. A responsabilidade de produzir o caos organizado e mixá-lo ficou nas mãos de Nery Bauer, outro velho parceiro de Mendes em projetos de estúdio.
No Embalo do Helicóptero tem 14 faixas. Todas formam uma unidade interessante apesar de terem sido feitas em épocas distintas. Vale à pena conferir o resultado de um trabalho que tem o seu lado brega, mas com muito bom gosto, por mais contraditório que isso soe.
No disco No Embalo do Helicóptero, Marcelo Mendes tocou guitarra, violão, ukulele e cantou. Ele foi acompanhado d’Os Bacanas que são: Roberto Lima (bateria), Eric Smitchel (baixo) e Harrison Azevedo (guitarra). A produção e a mixagem é de Nery Bauer e quem masterizou foi o Marcelo Birck. Participaram Nery Bauer, Alexandre Green, Paula Ende, Thais Olivier, Sebastian Barbosa, Rodrigo 90 Kothe.