O Fogo Cruzado estreou em 1981, teve várias formações, fez pausas e retomadas, participou do lendário festival "O começo do fim do mundo". Seu primeiro registro foi a coletânea "SUB" de 1983 junto com Ratos de Porão, Cólera e Psykose.
Em 1997, na coletânea: "Oi! Um grito de união" tocaram com Dinho Ouro Preto (Aborto Elétrico/Capital Inicial), Loro Jones (Capital Inicial), Miro de Melo (Lixomania/365) e Mingau (Ratos de Porão/365/Ultraje à Rigor); quando gravaram os clipes "Inimizade" e "O tempo está chegando", muito executados na MTV.
A banda está preparando um CD de inéditas e já mostra de saída 2 petardos contundentes sobre a nova cara e linguagem do Punk para a terceira década dos anos 2000. Afinal de contas tudo se renova na vida sob todos os aspectos. Com o punk não poderia ser diferente.
A alma do punk se mantém fiel ao propósito, no entanto as letras se atualizaram, as gravações tem um nível técnico altíssimo, a dicção na música se faz muito mais clara (se comparada ao começo da década de 80 por causa dos recursos mais modernos de captação de áudio) e os anos de estrada e experiência mostram a banda apontando para que direção o punk vai dialogar com os antigos fãs e principalmente com as gerações futuras.
Um dos maiores desafios que o Punk Rock tem atualmente é encontrar uma forma de se comunicar com o jovem roqueiro. Ou seja, trazer a ideologia, a forma de protesto e os assuntos abordados que modernize seu discurso. Para que assim tenha uma comunicação clara e de identidade com esta geração e seja absorvido por ela. Seja a tradução do que precisa ser dito. E os veteranos do Fogo Cruzado estão antenados com esta necessidade além de atender essa demanda com toda a expertise de quem fez lá no começo e fará para o futuro.
Uma grande qualidade do Fogo Cruzado é estar com sangue nos olhos, muita garra e autenticidade. Não se trata de uma banda fazendo cover de si mesma e tocando e regravando indefinidamente as mesmas músicas por décadas. Ao contrário disso os caras ambicionam e realizam o que serão sem dúvida os sons com todos os elementos para virar em algum tempo os novos clássicos. Existe vida, sentimento pulsante, verve, vontade e força.
Em "Abismo sem fim" a letra fala exatamente do momento em que vivemos não apenas no Brasil, mas de forma geral no mundo. Inflexibilidade, confusão, distorção da realidade política, derrocada da democracia, egoísmo, ódio e caos.
Já "Olhe camarada" é um chamado à auto avaliação, um convite à reflexão, uma análise de nossas atitudes e falta de humildade tão contundentes nos dias atuais.
Na execução das faixas é notória a precisão da bateria pesada do Valter Muniz, as viradas e evolução da guitarra do Ari Baltazar, a marcação pontual e certeira do baixo do Anselmo Monstro e o vocal forte e desafiador de Talibã.